Entre diagnósticos e promessas
- Mariella Matos

- 19 de out.
- 3 min de leitura
Entre fé, ciência e recomeços, o corpo e o coração aprendem o que significa continuar — mesmo quando nada sai como planejado.

O segundo “não”
Depois do primeiro “não”, o médico foi firme, mas gentil:
“Vá viver. Case. Viaje. Deixe seu corpo e sua alma respirarem.”
E foi o que fizemos.
Em agosto de 2015, subimos ao altar com o coração dividido entre amor e esperança.
A festa, a lua de mel, os primeiros meses de casamento foram um acalanto — um breve respiro sobre uma dor ainda latente.
Dez dias viajando, seis meses tentando não pensar — mas pensando.
Um novo começo (e uma velha dúvida)
Em março de 2016, voltamos ao consultório.
Desta vez, eu não queria apenas tentar de novo.
Queria entender o que estava acontecendo comigo.
O que soava contraditório na primeira FIV já não me abalava mais.
A dúvida sobre “ir contra a vontade de Deus” havia se dissipado desde o dia em que meu pai me disse, com a serenidade de quem crê:
“Deus deu sabedoria aos homens para curar e criar caminhos.A medicina é uma dessas formas.”
Aquela frase me ancorou.Buscar a medicina não era duvidar de Deus — era permitir que Ele agisse através dela.
O diagnóstico
Pedi uma investigação mais profunda sobre a possibilidade da endometriose — aquela palavra antes descartada.
E então veio o diagnóstico: grau III.
Senti o chão afastar-se dos pés.A doença estava ali o tempo todo, silenciosa, infiltrada.
Por um instante, me perguntei se insistir era teimosia — ou fé.
Mas a lembrança da frase do meu pai me devolveu o fôlego.
A cirurgia
Decidi operar.
Não por desespero, mas por amor à vida que eu ainda sonhava gerar.
Abril de 2016: minha primeira internação.
Minha primeira anestesia.
Meu primeiro grande medo.
Durante as quase três horas de videolaparoscopia, a endometriose foi retirada.
O médico sorriu ao me ver acordar:
“Você foi forte. Agora o caminho está mais limpo.”
Segunda tentativa
Um mês depois, iniciamos o novo protocolo da segunda FIV — doses mais altas, exames diários, esperanças antigas.Foram coletados cinco óvulos maduros.
Três fecundaram.
Dessa vez, decidimos fazer algo diferente: um teste genético antes da implantação.
Queríamos saber se eram fortes, se havia alguma chance real antes de mais uma esperança se transformar em luto.
Mas, antes que isso acontecesse, os embriões pararam de se desenvolver.
Nenhum resistiu.
Nenhum chegou a ser implantado.
O silêncio depois do sonho
Foi um silêncio diferente — mais fundo, mais pesado.
Não houve exame, nem risquinhos, nem espera.
Houve apenas o vazio daquilo que nem chegou a começar.
A tristeza tomou conta de nós.
E, por um tempo, tudo o que consegui fazer foi respirar — tentando entender o que a vida queria me dizer com tudo aquilo.
Mas o tempo, silencioso e teimoso, tem um jeito próprio de curar.E entre lágrimas e silêncios, algo dentro de mim ainda pulsava:
“Tenta mais uma vez.”
E foi assim que, mesmo sem esperança plena, começou o terceiro capítulo dessa história — o mais impactante talvez, que trouxe a dúvida se deveriamos continuar...
"Antes da cura, há sempre um silêncio.
E é desse silêncio que nasce a coragem de tentar outra vez."
Com carinho,
Mariella 💛
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