Por que falar em sucessão sem filhos é urgente no Brasil?
- Mariella Matos

- 23 de set.
- 3 min de leitura

O Brasil está passando por uma transformação silenciosa e profunda: cada vez mais pessoas chegam à maturidade sem filhos. Seja por escolha, infertilidade, prioridades profissionais ou circunstâncias da vida, esse grupo cresce a cada década — e traz consigo novas demandas sociais, econômicas e jurídicas.
Segundo dados recentes do IBGE, a proporção de mulheres que não tiveram filhos vem aumentando de forma consistente. Entre as brasileiras de 50 a 59 anos, por exemplo, 16% não tiveram descendentes. Em números absolutos, estamos falando de milhões de pessoas que, ao envelhecer, precisarão repensar como cuidar do próprio futuro e de seu patrimônio.
A ilusão de que “sempre haverá alguém”
Muitos ainda acreditam que, mesmo sem filhos, sempre haverá familiares próximos para assumir a herança ou cuidar de questões práticas. Mas a realidade nem sempre é assim: famílias menores, vínculos enfraquecidos e a distância geográfica tornam cada vez mais comum o cenário em que não há herdeiros diretos disponíveis.
Nesses casos, a lei brasileira tem resposta clara: sem descendentes, ascendentes ou cônjuge/companheiro, a herança reverte ao Estado, fenômeno conhecido como vacância hereditária. Pouca gente sabe, mas isso significa que a vontade individual só prevalecerá se houver planejamento sucessório.
O impacto social da sucessão sem filhos
Não estamos falando apenas de patrimônio. O envelhecimento sem filhos envolve decisões sobre:
Quem terá legitimidade para cuidar da sua saúde e administrar seus bens se você não puder fazê-lo.
Quem herdará suas conquistas, memórias e o fruto do seu trabalho.
Como garantir que vínculos afetivos (amigos, sobrinhos, afilhados) sejam respeitados mesmo fora da ordem legal.
Ignorar esse debate é abrir espaço para disputas familiares, perda de patrimônio e até para que o Estado decida destinos que poderiam ter sido definidos em vida.
As ferramentas jurídicas disponíveis
A boa notícia é que existem remédios jurídicos acessíveis que permitem organizar a sucessão de forma clara e antecipada:
Testamento: permite destinar parte do patrimônio (até 50%) para pessoas ou instituições escolhidas, garantindo que vínculos afetivos sejam respeitados.
Doações em vida: possibilitam transferir bens de maneira planejada, evitando surpresas futuras e facilitando a organização patrimonial.
Planejamento sucessório completo: combina instrumentos como testamentos, doações, cláusulas restritivas e até holdings familiares, oferecendo maior segurança e evitando conflitos.
Essas ferramentas não são restritas a grandes fortunas. Pelo contrário: qualquer pessoa que tenha bens, mesmo modestos, pode se beneficiar delas para ter tranquilidade sobre o futuro.
Por que é urgente discutir agora
Há três razões centrais que tornam esse tema inadiável:
Demografia: cada vez mais brasileiros envelhecem sem filhos.
Complexidade jurídica: mudanças recentes, como decisões do STF sobre união estável, impactam diretamente quem tem ou não direito à herança.
Prevenção de conflitos: testamentos, doações e outras ferramentas jurídicas oferecem soluções práticas, mas precisam ser conhecidas e utilizadas a tempo.
Caminho para a segurança
O primeiro passo é informação. Conhecer as regras da sucessão sem filhos é essencial para que cada pessoa possa escolher, com liberdade e consciência, como organizar sua história e proteger seus vínculos. O segundo passo é buscar orientação especializada, já que cada caso traz particularidades.
👉 Conclusão: Falar em sucessão sem filhos não é apenas discutir herança. É falar de autonomia, de legado e de cuidado com o futuro. Ignorar o tema pode custar caro. Antecipar-se a ele é um gesto de responsabilidade consigo mesmo e com aqueles que fazem parte da sua vida.


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